Esta matéria irá enfocar a aquisição e operação pelo Exército Brasileiro de um trator de artilharia praticamente desconhecido no resto do mundo. Estamos falando do Minneapolis Moline GTX 147 - 7,5 ton 6x6.
A empresa “Minneapolis Moline Power Implement Company” fundada em 1929 era, no final dos anos trinta, uma famosa construtora de equipamentos de emprego agrícola e industrial. Em 1938 apresentou ao exército americano um trator 4x4 derivado de um modelo civil de sua fabricação.
Minneapolis Moline mod. UDLX - anos 30 |
O modelo teve um sucesso discreto, principalmente no tocante ao seu desempenho em terrenos variados.
Por causa disso, pensaram em elaborar, partindo de um trator de emprego industrial, um modelo 6x6 para rebocagem de uma peça de artilharia. Em Janeiro de 1941 o protótipo do veículo com tração nas seis rodas foi entregue à autoridade militar do campo de provas de Aberdeen (local de teste para veículos militares, situado em Maryland).
Tratava-se de um 6x6 denominado pelo construtor como Modelo GTX, consistindo de um diferencial dianteiro Timken e dois posteriores da própria Minneapolis Moline. Um segundo protótipo modificado segundo instruções dos militares foi entregue em meados de 1941.
Denominado GTX 147, tinha maior espaço à disposição da guarnição e um poderoso guincho frontal da empresa “Garwood Industries”, além do rolo dianteiro redesenhado. (Aqui cabe um aparte com relação a esse tipo de dispositivo frontal de alguns veículos militares mais antigos. Esse rolo era usado para transpor obstáculos que porventura fossem encontrados pela frente quando a viatura estivesse fora de estrada. Ao encontrar o obstáculo, o rolo simplesmente rolaria por cima dele sem oferecer resistência e a tração da viatura faria o resto do serviço. Vários veículos tiveram esse dispositivo no começo de suas carreiras e posteriormente acabaram sendo eliminados. Os Scout Car M3 de reconhecimento, os primeiros modelos de meia lagarta e até uma das versões do Kübelwagen com tração total.)
O resultado do teste não foi muito encorajador, visto que o GTX 147 foi capaz de funcionar apenas 62 horas antes de apresentar sérios problemas mecânicos, entretanto, foram encomendadas cem unidades. O emprego previsto seria a rebocagem dos canhões de 90mm antiaéreos.
O resultado do teste não foi muito encorajador, visto que o GTX 147 foi capaz de funcionar apenas 62 horas antes de apresentar sérios problemas mecânicos, entretanto, foram encomendadas cem unidades. O emprego previsto seria a rebocagem dos canhões de 90mm antiaéreos.
Em plena II Guerra (1939-1945), o exército americano estava passando por uma fase de modernização e mudança nos conceitos de tratores de artilharia. A idéia era a utilização de veículos com esteiras ao invés de rodas. Sendo assim, o GTX acabou não sendo empregado por eles.
O que fazer com 100 tratores de artilharia novos em folha e sem utilidade? A solução foi simples. Como o Brasil estava se reequipando e necessitando de material para sua artilharia de costa, foram vendidos a preço de sucata, dentre outras coisas, 99 canhões de origem inglesa Vickers Armstrong de 6” (152,4 mm), que estavam no Panamá. (Foram fabricados pelos ingleses, 310 canhões no total, durante a Primeira Guerra Mundial e 100 deles foram vendidos para os americanos.)
Eram canhões enormes, pesados (11.075 kgs), com rodas de aço. Vieram sem munição ou veículo trator, o que impossibilitava o transporte em alta velocidade e posicionamento rápido da bateria.
Como não dispúnhamos de nada por aqui que pudesse manobrar esses pesos-pesados, foi oferecido o GTX 147 para tal função. O problema dos americanos do que fazer com os tratores estava solucionado. Foi vendido um trator para cada canhão. Vieram 99 tratores para cá e um ficou lá, provavelmente colocado num museu.
Em 1943 a firma “Sociedade Santa Mathilde Ltda” foi contratada para modernizar os canhões. Foram colocadas rodas com pneumáticos, transformando o reparo (suporte do canhão) no modelo “Rep M942 Can”. Foi projetada uma plataforma de tiro móvel (mod. M1944), semelhante à usada pelos ingleses na Primeira Guerra Mundial e uma plataforma fixa, baseada no modelo “Panamá Mount”, ou seja, um suporte central de concreto (pião central), com um trilho ao redor onde era colocado a flecha do reparo. Isso permitia o giro em 360º.
Como não havia sequer o projeto da munição (haviam sido perdidos com o tempo), uma nova munição 20% mais eficiente que a original foi projetada e construída aqui.
Esse canhões permaneceram em uso até 1998.
Já o trator GTX foi usado de 1941 até o final dos anos 70 pelo Exército Brasileiro. Desativados, foram vendidos como sucata.
Nenhum foi preservado pelo EB, infelizmente. O único que se tem certeza do destino por aqui está no museu de Bebedouro, sem restaurar e praticamente do mesmo jeito de quando foi comprado de um sucateiro localizado antigamente na Rua dos Trilhos, bairro da Moóca, em São Paulo. Isso posso afirmar com toda a certeza, pois presenciei a venda desse trator num dia da década de 70 enquanto procurava peças para meu MB 1942, exatamente nesse depósito de sucata.
Infelizmente nessa época eu não andava com uma câmera fotográfica a tiracolo como faço nos últimos 30 anos. Se tivesse, teria fotografado todos os quatro GTX que estavam à espera de compradores nesse local.
O trator Minneapolis Moline é uma máquina imponente e vistosa que transmite a quem o olhar a sensação de que nada é pesado o suficiente para ele.
Tive a oportunidade de andar num deles há muito tempo atrás numa visita a uma unidade de artilharia de costa. A sensação é indescritível. O motor de 9.910 centímetros cúbicos roncando furiosamente debaixo do capô e as rodas quase não se movendo, mas com um poderoso torque. Sua velocidade máxima é de “impressionantes” 45 km/h, mas suficientes para arrastar 22 toneladas de carga até o local designado.
Seu sistema de freio era pneumático, ou seja, a ar comprimido, gerado por um compressor dentro do próprio motor que também fornecia ar para os pneus, para outras viaturas ou equipamentos.
O sistema de freio era comandado por um conjunto de pedal e alavancas dispostas na posição do motorista de tal forma que poderiam ser usadas tanto para frear o lado esquerdo como para frear o lado direito da viatura. Esse tipo de sistema era muito útil para manobras de posicionamento do canhão rebocado.
O sistema de freio era comandado por um conjunto de pedal e alavancas dispostas na posição do motorista de tal forma que poderiam ser usadas tanto para frear o lado esquerdo como para frear o lado direito da viatura. Esse tipo de sistema era muito útil para manobras de posicionamento do canhão rebocado.
Existia ainda uma terceira alavanca para comandar o freio do reboque que porventura estivesse sendo utilizado.
O trator Minneapolis Moline GTX, foi substituído ao longo do tempo pelo trator de artilharia M4, até que fosse totalmente retirado do serviço ativo.
Trator de Artilharia M4 - vista frontal |
Trator de Artilharia M4 - vista posterior |
Uma máquina estranha e bastante desconhecida que prestou um brilhante serviço ao Exército Brasileiro.
Em março de 1989, tive uma agradável surpresa ao ler uma revista italiana de fora de estrada e encontrar um GTX brasileiro restaurado e preservado por um colecionador na Itália.
Quando e como esse trator foi mandado para a Itália permanece um mistério, mas o fato é que foi bem restaurado, está operacional e isso é o que importa.
Infelizmente não foi mantido o número de matricula original no EB, caso contrário, saberíamos a que unidade havia pertencido. Outro detalhe foi que o Cruzeiro do Sul estava de cabeça pra baixo, mas isso não tem importância frente ao fato de que pelo menos alguém lá de fora se empenhou na preservação de um material extremamente raro como é o caso do GTX 147.
Até a próxima e mantenham todos eles andando.
FICHA TÉCNICA PARCIAL – CANHÃO VICKERS ARMSTRONG 6 POL.
Fabricante | Vickers-Armstrongs Limited |
Origem | Inglaterra |
Ano | 1917 - 1919 |
Qiuantidade produzida | 310 |
Alcance Máximo | 18.200 mts |
Cadência de tiro | 3 tiros p/min |
Calibre | 152,40 mm |
Comprimento do tubo | 5,57 m |
Elevação máxima | 38º |
Peso da granada | 49,20 a 51,20 kg |
Peso total | 11.075 kg |
Tipo de munição | desengastada ( sem cartucho , sem invólucro ) |
FICHA TÉCNICA PARCIAL – MINNEAPOLIS MOLINE GTX 147
Fabricante | Minneapolis Moline Power Implement Company |
Origem | Minneapolis - Minnesota - USA |
Ano | 1941 |
Quantidade produzida | 100 |
Motor | Minneapolis Moline HEA |
Potencia | 105 hp a 1800 rpm |
Nº cilindros | 6 em linha |
Cilindradas | 9910 cc |
Combustivel | Gasolina - (dois tanques de 100 litros cada) |
Arrasto | 22 toneladas |
Cambio | Manual 3 marchas a frente e 1 a ré |
Sistema elétrico | 6 volts com duas baterias |
Dimensões | |
Comprimento | 5,131 mts |
Largura | 2,438 mts |
Altura | 2,921 mts |
Altura livre do solo | 250 mm |
Angulo de entrada | 28º |
Angulo de saída | 36º |
Sistema de freios | Pneumático |
Peso | 7500 kg |
Pneus | |
Dianteira | 8,25x20,00 (2) |
Traseira | 14,00x24,00 (4) |
Velocidades | |
Máx. em reduzida | 16,9 km/h |
Máx. em alta | 49,1 km/h |
http://pillbox-sp.blogspot.com.br/2011/11/trator-minneapolis-moline-gtx-147-75.html